sábado, 17 de julho de 2010

Estranha Diferença





Não tenho muita certeza da data, mas sei que foi em 2009. Eu me envolvi em um pequeno acidente de carro em Brasília e claro, pra poder acionar o seguro foi necessário fazer uma ocorrência policial, o famoso BO. Pois então, lembro que na época os policiais civis estavam em greve e eu fiz a ocorrência pela internet. No mesmo dia, de posse de uma espécie de senha eu imprimi o documento e ao mesmo tempo o enviei por email para a motorista que se envolveu no acidente comigo e para companhia de seguros. Tudo muito rápido e fácil. Você deve tá se perguntando: o que isso tem a ver com a África do Sul? eu explico.
No dia 11 de julho, durante o jogo final da copa entre Espanha e Holanda, eu estava mais uma vez no Mel Rose Arch, tinha virado setorista como acontece ai, no palácio, no congresso. Pois é, no último dia da copa do mundo eu fui roubado, quer dizer furtado. Calma, não me levaram e para o azar de muitos um dia eu volto. Levaram minha mochila com algumas fitas (acreditem em pleno século 21 estava usando Betacam), um microfone sem fio, uma bateria de câmera e uns cabos. Ainda não sei se vou ter que pagar pelo perdido (vacilo), mas precisei ir a uma delegacia pra registrar a ocorrência , claro, fui com meu assessor Lula no dia seguinte ao ocorrido. Pra minha surpresa a ocorrência foi preenchida à mão. Não vi em nenhum lugar da delegacia um computador. Ao final recebemos dois números, um do processo e outro de um telefone, que deveríamos ligar dois dias depois pra saber se já poderíamos pegar uma cópia do documento em uma outra delegacia. Dois dias depois e nada. Hoje (ontem) dia 16, fomos a delegacia apanhar o documento. Outra surpresa, o número do processo que nos forneceram não batia com o do processo existente. Esse era de um caso de posse de drogas. Sei que ando com Lula pra lá e pra cá, mas esse é outro e o cara não é de tudo mal. Resumindo, depois de esclarecida a confusão, nada foi entregue e teremos que esperar um pouco mais, sabe-se lá quanto tempo. Mas o porque do título? não consegui fotografar essas situações internas, mas comparem o fato que mencionei com os carros que utilizam nas ruas do país, BMWs, Audis e Mercedez. Nas delegacias por um determinado momento até procurei por um mimiógrafo. Quem tem mais de quarenta anos como eu deve se lembra disso.

quinta-feira, 15 de julho de 2010

A Copa Acabou





Isso é do conhecimento de todos, mas o que nem todo mundo sabe é que com o fim da copa, ressurgiram muitos problemas para um monte de pais de família daqui. Pelas informações oficiais serão mais de cento e cinquenta mil desempregos. Era esse o número de empregos temporários criados durante o evento que movimentou o país. São motoristas, diaristas, garçons, seguranças, operários, intérpretes. Os salários já não eram muito bons mesmo em tempos de vacas gordas, agora então, nem existirão mais. Os restaurantes que antes ficavam cheios de clientes e consequentemente de funcionários já não tem mais o mesmo movimento. Um prato simples que levava vinte cinco minutos pra ficar pronto em um fast food, agora é entregue em no máximo dez minutos. Todos os motoristas que conheci são casados, as vezes com mais de uma mulher e com vários filhos. As diaristas que limpavam as casas do condomínio onde morei brigavam pelas sobras nas despensas das casas quando deixamos o local. Claro, os negros são os mais atingidos, se não forem os únicos. É muito triste ouvir uma pessoa te pedir ajuda e não poder ajudar. Não se trata de dinheiro, isso as vezes ajuda, mas o pedido é de emprego. Já nem sei quantos números de telefone tive que anotar prometendo ajudar se possível, arrumando emprego fixo ou simples bico temporário. Quem me conhece sabe que sempre que pude, ajudei. Já pedi emprego pra muita gente e até consegui alguns, mas aqui, o que eu posso fazer?

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Jacob




Um olhar triste, sofrido pelo tempo, pele escura, corpo cansado, mãos calejadas. Estou falando do senhor Jacob, um amigo que fiz no complexo alugado pela Record. No início a comunicação foi muito complicada, parte pelo meu inglês falho, parte pela sua pouca audição, fruto de sua avançada idade e também pela mistura de dialetos que fala simultaneamente. Depois de alguns dias, o contato passou a ser melhor, a correria do dia-a-dia para mim não me dava muito mais tempo, mas senti nele a reciprocidade da minha paixão. Pois é, me apaixonei por um homem. Talvez pelo fato de ter perdido meu pai ainda muito criança e de repente ele tenha me despertado essa presença aqui, oito mil quilômetros do Brasil, sozinho, longe de casa, dos amigos, da família. Jacob, ele é o senhor que limpa o condomínio, que limpa as piscinas e a primeira vez que o vi, foi em um dia muito frio, sentado em um banco ao lado da piscina de uma das casas, imóvel, parecia morto, mas estava apenas dormindo, cansado mesmo sendo apenas o início do dia. Pensei em acordá-lo pra saber se estava bem, mas vi que tinha sido derrubado pelo cansaço e preferi não incomodar, na verdade fiquei apenas vigiando por um tempo para que não fosse flagrado dormindo. Desde então vinha tentando cuidar dele (do tiozinho) mas foi por pouco tempo. Com o fim da copa do mundo me mudei para outro endereço hoje e deixei de oferecer o café brasileiro todas as manhãs. Ele ainda não havia se acostumado com o sabor forte e sempre pedia que colocasse mais água quente e eu insistia que deveria tomar como deve ser, mas não consegui convencê-lo. Quando sai hoje, o encontrei molhando o gramado, estava muito frio e ele usava o casaco que eu tinha lhe dado, desci do carro, lhe dei um abraço, disse a ele o quanto ia sentir sua falta e sai de lá com olhos marejados. Queria muito ouvir sua história, deve ter muito o que contar, sobre a África do Sul que conhece, sobre o apartheid, sobre, sua família, filhos, netos . Agora nem sei se vou encontrá-lo de novo.

domingo, 4 de julho de 2010

Curso Rápido de Português



Definitivamente esse povo de comunicação do Brasil não vale nada. Nesse período de copa do mundo, quem veio pra cá de uma forma ou de outra precisou contratar serviços essenciais como: motorista com carro, empregados domésticos para quem alugou casas ao invés de quarto de hotel e em alguns casos até interpretes ou produtores que conhecem bem o país e suas particularidades. Mas é claro, brasileiro é foda (com o perdão da palavra aos milhares de leitores do blog) e não perde a chance de dar uma sacaneada quando pode. Uma das diversões aqui é brasileiro ensinar ao pessoal alguns palavrões em português dizendo que uma coisa legal. Vira e mexe ouvimos um motorista ou uma empregada doméstica falando um "porra", "do caralho"... Hoje mesmo o motorista que saiu comigo teve que dar uma freada por causa de uma baianada ou goianada de outro motorista e depois deu o dedo pro cara e o chamou de "filho da puta"... em bom português. Outro dia entrei na casa ao lado onde fica a redação e vi o Douglas, um amigo da Record ensinando pra moça que limpa a casa dele que a bebida boa no Brasil é cachaça. Só que ela não conseguia repetir "cachaça", falava cassacha. Não pude evitar e fui logo dizendo, não essa é a filha da Xuxa. A mulher repetia e nada de conseguir, só saía cassacha. Eu morria de rir e ela sem saber o porque, queria que ensinasse como se fala em inglês. Tirei uma onda e disse que só sabia falar em português e em zulu, foi a deixa pra ela falar um monte em zulu e rir muito. Bati um longo papo com ela em zulu, mas acho que não me fiz entender, meu zulu é um tanto moderno pra ela. Eu repeti um trecho da letra de uma música do Zeca Pagodinho "iaia, ou iaia, minha preta não sabe o que eu sofri..." Bom, pelo menos ela e o Douglas riram um pouco. O motorista de gorrinho branco da foto se chama Kayser e claro já sabe que é marca de cerveja ruim no Brasil. O outro é o Shimani, mais novo torcedor do Fluminense depois do presente que ganhou. E o cara já aprendeu direitinho o nome da seleção "Flouminense".




Não sei bem qual o período do inverno na África do Sul, mas sei que se queima muita madeira e gás nessa época. Em todos os lugares, lojas de conveniência, shoppings e supermercados, encontramos algo ligado ou pegando fogo. A maioria usa aquecedores a gás. É normal ter nas salas das casas um aquecedor ou uma lareira. Onde estou morando nessa época de copa do mundo colocaram uma máquina dessas, mas como eu sou meio caipira não me arrisco em deixar esse troço ligado. A coisa é uma caixa que pega fogo dentro e atrás dela tem tem um botijão de gás com uns oito quilos pronto pra explodir. Esse mesmo sistema é utilizado em restaurantes, onde ficam espalhados entre as mesas acima da altura das cabeças dos clientes
também ligados a um botijão de gás. Nunca ouvi dizer que tenha acontecido algum acidente com esse sistema, mas o seguro morreu de velho e por isso estou sempre com o meu "kit contra o frio": cachecol, gorro, luvas e claro meu inseparável casaco que fica por cima de umas segunda pele, uma camiseta e outra blusa de lã. Ouvi dizer que o frio ainda nem começou. Em pensar que em fevereiro passei o carnaval no sertão do Piaui.