sábado, 2 de outubro de 2010

Morrer é complicado






Essa semana fui a Durban, cerca de quinhentos e cinquenta quilômetros de Johanesburgo para gravar um entrevista com o administrador dos cemitérios da cidade. São cerca de sessenta cemitérios, mas só doze ainda tem espaço para enterrar os mortos. Imagine você ser responsável pelo enterro de milhares de pessoas que morrem todos os anos e não ter onde fazer isso. Uma profissão meio mórbida, mas necessária. Pra se ter uma idéia, uma cerimônia funebre aqui pode durar até sete dias e custar cerca de seis mil reais. Já uma cremação não custa mais que cento e cinquenta reais. Mesmo assim isso não atrai o interesse das famílias, porque a tradição e a cultura dos negros aqui na África do Sul, acredita que os mortos devem ser enterrados e não cremados. Os cemitérios que ainda podem receber os mortos totalizam cinquenta mil vagas, mas morrem em média vinte e cinco mil pessoas por ano. Com isso, em dois anos não haverá mais onde enterrar os mortos. As autoridades locais já pensam inclusive em enterrar os mortos na posição vertical pra ocupar melhor os espaços ainda existentes. Outra medida é que os corpos enterrados há mais de dez anos, devem ser retirados das covas, abrindo assim novas vagas para os futuros inquilinos.
Definitivamente eu não pretendo morrer aqui.