quarta-feira, 7 de julho de 2010

Jacob




Um olhar triste, sofrido pelo tempo, pele escura, corpo cansado, mãos calejadas. Estou falando do senhor Jacob, um amigo que fiz no complexo alugado pela Record. No início a comunicação foi muito complicada, parte pelo meu inglês falho, parte pela sua pouca audição, fruto de sua avançada idade e também pela mistura de dialetos que fala simultaneamente. Depois de alguns dias, o contato passou a ser melhor, a correria do dia-a-dia para mim não me dava muito mais tempo, mas senti nele a reciprocidade da minha paixão. Pois é, me apaixonei por um homem. Talvez pelo fato de ter perdido meu pai ainda muito criança e de repente ele tenha me despertado essa presença aqui, oito mil quilômetros do Brasil, sozinho, longe de casa, dos amigos, da família. Jacob, ele é o senhor que limpa o condomínio, que limpa as piscinas e a primeira vez que o vi, foi em um dia muito frio, sentado em um banco ao lado da piscina de uma das casas, imóvel, parecia morto, mas estava apenas dormindo, cansado mesmo sendo apenas o início do dia. Pensei em acordá-lo pra saber se estava bem, mas vi que tinha sido derrubado pelo cansaço e preferi não incomodar, na verdade fiquei apenas vigiando por um tempo para que não fosse flagrado dormindo. Desde então vinha tentando cuidar dele (do tiozinho) mas foi por pouco tempo. Com o fim da copa do mundo me mudei para outro endereço hoje e deixei de oferecer o café brasileiro todas as manhãs. Ele ainda não havia se acostumado com o sabor forte e sempre pedia que colocasse mais água quente e eu insistia que deveria tomar como deve ser, mas não consegui convencê-lo. Quando sai hoje, o encontrei molhando o gramado, estava muito frio e ele usava o casaco que eu tinha lhe dado, desci do carro, lhe dei um abraço, disse a ele o quanto ia sentir sua falta e sai de lá com olhos marejados. Queria muito ouvir sua história, deve ter muito o que contar, sobre a África do Sul que conhece, sobre o apartheid, sobre, sua família, filhos, netos . Agora nem sei se vou encontrá-lo de novo.

2 comentários:

  1. Esse é mesmo o Costâncio que conheço. E quem sabe nas suas folgas você pode visitá-lo e ir regando essa amizade. Coisas que valem a pena, né? Bjm

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  2. Já estava com saudade dos seus posts. Viu como sou seguidora fiel??? ...rs.... Vá visitá-lo sim e aproveite para aprender uns dialetos e trazer mais histórias para sua coleção. Fiquei daqui imaginando quantos "causos" ele deve ter para te contar. Beijos!

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