sexta-feira, 24 de junho de 2011

Escola Pública na capital do Malawi




O tempo vai passando e eu vou me embrenhando cada vez mais na África, conhecendo a realidade que só via na TV, em documentários. A realidade é bem pior que parece e sei que pode piorar ainda mais. Essa semana estou no Malawi e hoje me deparei com uma cena que só tinha visto em fotos no museu do apartheid na África do sul. Foto em museu parece ser uma coisa antiga, ultrapassada, mas aqui, mesmo sem uma separação racial a imagem é bem real e longe de fazer parte de uma exposição. Crianças, negras em sala de aula, sem mesas ou cadeiras sentadas no chão apoiando seus cadernos nas pernas ou mesmo no piso sujo e grosso. Algumas ainda podem apoiar as costas nas paredes, outras se curvam sem apoio algum, aprendendo pouco e acabando com a coluna. A professora se esforça utilizando um quadro negro do tamanho de um flip charter que usamos em reuniões. E acreditem, essa é uma escola pública na capital do país Lilongwe. Essa escola tem em sua maioria crianças de um vilarejo que parece ter sido esquecido no meio do nada, sem água, sem energia elétrica e saneamento básico. Absolutamente nada. É muito triste ver que algo que antes parecia tão distante está bem aqui ao lado. A sensação de impotência em ajudar aumentou ainda mais, quando sem saber o que encontraria na vila, não me preparei para levar alguma coisa que as crianças de lá gostassem. Pra piorar um pouco ao me despedir, encontrei na bolsa da câmera uma caixa com alguns chicletes e sem pensar ofereci a um dos meninos que me cercavam e com isso provoquei uma confusão generalizada e de certa forma chocante. Não adiantava tentar me comunicar em inglês ou português, dizendo que podiam dividir os 10 tabletes para que 20 crianças pudessem provar. Ainda assim o número de crianças era bem maior. O idioma falado pelas crianças e pela maioria dos adultos é o Chichewa. Ainda surgiu uma outra caixa de chicletes da bolsa da Adriana, mas nem assim foi possível para acalmar a molecada. Em pensar que com muito pouco se pode fazer uma criança sorrir mesmo vivendo em uma situação como a que vivem. Confesso que mesmo vendo algumas delas sorrir, sai de lá com um nó na garganta por não ter sido capaz de fazer com que todas sorrissem. Voltamos mais tarde com algumas coisas para elas, mas a sensação de impotência com certeza vai continuar por muito tempo.

Fotos: Adriana Bittar

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